terça-feira, 21 de abril de 2009

As tendências na Internet e suas repercussões sociais

Com os avanços tecnológicos recentes, a rede mundial de computadores vem sendo motivo de discussões no que diz respeito à transformação das formas de participação, possibilidades de criação e às práticas presentes no mundo virtual. Com o amadurecimento da Internet, passamos da Era da Web 1.0 da qual Primo (2007) refere que representa a primeira geração da Web onde sites eram trabalhados como unidades isoladas, para uma Era onde “passa-se para uma estrutura integrada de funcionalidades e conteúdo” (Primo, 2007, p.2) que transforma a maneira do usuário navegar – a chamada Web 2.0.

O`Reilly (2005a), o precursor do termo, define a Web 2.0 como a transição para uma Internet como plataforma de publicação, bem como o entendimento dos princípios para obter sucesso nesta nova plataforma. Ele criou um mapa dos conceitos e conjunto de
práticas que norteiam a expressão Web 2.0:


What's Web 2.0
Fonte: O’Reilly, 2008, online.

Desta forma, os pontos-chave da Web 2.0, para O’Reilly está na web como plataforma, no controle de dados pelos próprios usuários, nos serviços independentes de pacotes de softwares, na flexibilidade de dados, inclusive das fontes, no incentivo à inteligência coletiva. Portanto, o foco da Web 2.0 está no usuário e
configura-se essencialmente sobre uma arquitetura participativa. Nas palavras dele:


Web 2.0 é a rede como plataforma, abarcando todos os dispositivos conectados. As aplicações Web 2.0 são aquelas que produzem a maioria das vantagens intrínsecas de tal plataforma: distribuem o software como um serviço de atualização contínuo que se torna melhor quanto mais pessoas o utilizam, consomem e transformam os dados de múltiplas fontes – inclusive de usuários individuais – enquanto fornecem seus próprios dados e serviços, de maneira a permitir modificações por outros usuários, criando efeitos de rede através de uma ‘arquitetura participativa’ superando a metáfora de página da Web 1.0 para proporcionar ricas experiências aos usuários (O’REILLY, 2005b).


Logo, “a Web 2.0 valoriza principalmente as práticas cooperativas, os diálogos e as negociações, as contínuas problematizações” (PRIMOa, 2008, p. 64), que implicam fortes mudanças no comportamento do usuário/consumidor. Mas não é somente as características da Web que estão se transformando e que acarretam estas mudanças. Para Primo (2008a), a estrutura midiática contemporânea vem sofrendo diversas modificações. Ele refere que “A tecnologia digital não apenas potencializou as formas de comunicação interpessoal mediadas por computador (como blogs e redes de relacionamento), mas vem também atualizando o que hoje podemos chamar de mídia tradicional” (PRIMO, 2008a, p. 65).


Nesse sentido, este período vincula-se aos condicionamentos advindos do uso das tecnologias digitais na sociedade. Com a miniaturização dos equipamentos (notebooks e palmtops) e com a interligação de diversas redes de comunicação que passam a ser acessíveis dos lugares mais remotos (internet, telefonia celular, WI-FI, etc.), cria-se, segundo Pellanda (2006, p. 203), um ambiente always on. (PRIMO, 2008a, p.60).

De fato, os dispositivos portáteis de computação conectados à rede possibilitam a facilidade de conexão, o acesso global, e toda uma potencialidade de
novos usos bem como a transformação dos existentes. “A questão inclui não só o lugar (espaço) mas também a quantidade (tempo) de exposição à conexão na qual indivíduos passam a estar inseridos” (PELLANDA, 2008, p.2). Outro aspecto levantado pelo autor, é o efeito da aceleração da velocidade aparente nas práticas sociais, como por exemplo, a utilização crescente dos messengers ao invés do e-mail.

A questão de estar todo tempo conectado em todo o lugar (always on) pode ser explicada segundo Pellanda (2008), em parte, pelo desejo do ser humano estar conectado aos demais seres sociais e pelo anseio à onipresença. Para ele, “a arquitetura deste ambiente móvel pode ser analisada sob a ótica da cibercultura e seus desdobramentos quando transpostos para a questão da mobilidade em rede. Com a mudança do ponto de ligação dos indivíduos com o ciberespaço, altera-se também elementos de análise da cibercultura” (PELLANDA, 2005, p.2). Nesse sentido Rheingold (apud Silveira, 2008, p.34) denominou o fenômeno de smart mobs ou multidões inteligentes como


pessoas desconhecidas que vão se conectando em uma rede ad hoc, momentânea, unida por um objetivo ou causa comum. A comunicação digital sem fio viabilizou a auto-organização instantânea de coletivos inteligentes. Com a digitalização da comunicação sem fio, cada vez mais a internet poderá ser acessada pelos celulares, bem como da rede de computadores já é possível enviar mensagens para telefones móveis. Assim, a rede digital é também uma rede móvel que acompanha o andar do cidadão (SILVEIRA, 2008, p.34)


De acordo com estudo realizado pelo Ibope/NetRatings em junho de 2008, intitulado "O consumidor multimídia: uma tendência contemporânea"[1], o consumidor brasileiro está incorporando novas marcas, produtos e serviços ao seu cotidiano, bem como, novos meios de informação, tornando-se assim, um consumidor multimídia.

Os resultados da pesquisa referem que na sua prática diária, a audiência encontra-se muito mais conectada (em média o internauta residencial ficou 23 horas e 48 minutos conectado no mês de maio). Dados que refletem uma audiência que não se contenta mais em ser passiva, transformando-se em produtor da informação, gerando e publicando conteúdo em larga escala, criando blogs, desenvolvendo e participando de grupos de discussão, com regras e linguagens próprias e ainda com atualização em tempo real.

Segundo os dados da pesquisa, o Brasil ultrapassou pe
la primeira vez na história a marca de mais de 40 milhões de pessoas com acesso à internet em qualquer ambiente, como casa, trabalho, escola, cybercafés e bibliotecas. O dado divulgado em junho de 2008, refere-se ao primeiro trimestre deste ano. Levando-se em consideração que o Brasil tem aproximadamente 184 milhões de habitantes, o número de internautas já equivale a 22,5% da população.

Lévy (1999) afirma que diversos aspectos da Cibercultura cresceram exponencialmente em números de pessoas com poder de acesso à era da conex
ão, mas no entanto, o fenômeno ainda é minoritário. Apesar disso, Lemos (2003) afirma que o mesmo deve ser compreendido como hegemônico.

Pellanda (2005) também pondera ao afirmar que, criar mais conexões para que a informação possa ser trocada não garante por si só n
em a ocorrência de comunicação e tampouco de geração de conhecimento. Mas entretanto, pode-se projetar uma visão otimista e, como reflete o autor, “o aumento de conexões, em um primeiro momento e depois a busca pela sua organização, que precisa ser criada pelo meio e não imposta por padrões, podem encaminhar uma nova possibilidade de avanço de conhecimento”.

Assim, o levantamento também nos dá indícios de que a população procura estar mais bem informada, buscando se munir de informações por meio dos diferente
s veículos de comunicação, e crescentemente, na Internet. A tabela 1 também ajuda a traduzir, de maneira relevante, as transformações que estão alterando hábitos e conceitos sobre o uso do ciberespaço:


Transformações dos consumidores
Fonte: Portal Exame[2]

Dessa forma, a voz dos consumidores ganha maior força e liberdade, podendo representar oportunidades e também ameaças aos negócios. As reclamações que antes eram restritas ao SAC das empresas, hoje ficam registradas na Internet, visíveis a qualquer um nas ferramentas de busca. O consumidor cada vez mais conectado, busca nos sites das empresas informações oficiais, bem como, visita fóruns de discussão, blogs e redes de relacionamento, à procura de outras opiniões.

De acordo com a pesquisa Trust Media – Why The Average Person Is Getting Heard realizada pela Edelman[3], uma das maiores agências de Relações Públicas do mundo, as instituições, entre elas as empresas, perderam o privilégio da informação. A opinião de uma pessoa comum, sem os filtros dos meios de comunicação tradicionais, ganha cada vez mais credibilidade. Em pesquisa anterior[4], estudos mostram que mais da metade dos blogs mais influentes do mundo publicam pelo menos um comentário semanal sobre empresas, seus funcionários ou produtos. O que demonstra uma nova dimensão na comunicação das organizações com os seus públicos.

[1] IBOPE, Brasil superou o número de 40 milhões de pessoas com acesso à Internet.
Na seção: IBOPE//NetRatings, Notícias, Internet - Área: Notícias\Press Releases\2008. Data de publicação: 27/06/2008. Disponível aqui
[2] Disponível aqui. Acesso em 27/09/08.
[3] Disponível em: http://www.edelman.com.br/clientes/pesquisas/Blog%20na%20academia.pdf. Acesso em 27/09/08.
[4] Blogging From The Inside out: The rise and Effective Management of Employee Bloggers. Disponível em: http://www.edelman.com.br/clientes/pesquisas/Blog%20na%20academia%20-%20second.pdf. Acesso em 27/09/08

Referências:

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999
O’REILLY, Tim. What is Web 2.0: design patterns and business models for the next generation of software. [09/2005]. Disponível aqui.
Acesso em: 07/09/2008.
______________. Web 2.0: compact definition? [10/2005]. Disponível aqui. Acesso em: 7/09/08
PELLANDA, Eduardo (2008). Comunicação móvel: das potencialidades aos usos e aplicações. Natal: Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
__________________. (2005), O “local” do virtual no ambiente de Internet móvel. Rio de Janeiro: Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
PRIMO, Alex. Fases do desenvolvimento tecnológico e suas implicações nas formas de ser, conhecer, comunicar e produzir em sociedade. In: PRETTO, N. D. L.; SILVEIRA, S. A. de (Org.) Além das redes de colaboração: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder. Salvador: EDUFBA, 2008a. p.51-68.
___________. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. E- Compós (Brasília), v. 9, p. 1–21, 2007.
SILVEIRA, S. A. Convergência digital, diversidade cultural e esfera pública. In: PRETTO, N. D. L.; SILVEIRA, S. A. de (Org.) Além das redes de colaboração: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder. Salvador: EDUFBA, 2008. p. 31–50.